Vamos começar pelo não! Não se termina uma amizade ou um namoro bloqueando a outra pessoa no WhatsApp, da mesma maneira que não se apaga o que foi vivido deletando postagens. Mas sem sombra de dúvidas, o bloqueio mostra a falta de amor e de delicadeza. Ao que parece existe uma dificuldade entre os seres humanos de manifestar seus sentimentos, ou até em dialogar sobre qualquer coisa que extrapole suas próprias necessidades. E quando digo necessidades, me refiro ao desejo ilusório de manter a outra pessoa satisfazendo determinadas vontades particulares. Cada pessoa é um universo e ninguém está para servir o outro. Agir usando o outro em benefício próprio é, no mínimo, desleal. Quando a ação é patológica existe diagnóstico e bibliografia.
Lembre-se, o bajulador usa sua vaidade para ter algo que só você pode dar.
Isso me faz lembrar que quando eu era criança, toda vez que eu aparecia com uma amiga nova que dizia loucamente que me amava, minha avó falava com aquele jeitinho dela de cantarolar: amor louco dura pouco. Confesso que muitas vezes eu me irritei com esta frase, porque não entedia toda sabedoria que estava por trás.
Saber sobre amor e amizade é pauta da filosofia desde muito tempo, Platão, Aristóteles, Plutarco, Nietzsche, Schopenhauer. A traição e manipulação não é privilégio da Geração X, Y ou Z. Existe um conhecimento lapidado de leitura do outro feita pela pessoa aduladora. Mas se pensarmos bem, só cai na conversa quem é muito focado ao próprio umbigo. Adular é a forma mais rápida de ataque aos vaidosos. Até os jargões populares nos alerta, pois “quando a esmola é demais o santo desconfia”.
É interessante pensar que aquele que usa de lisonja para obter vantagem é um tipo parasitário, mas para Plutarco o bajulador é um “para-amigo”. O prefixo “para” indica defeito ou vício. Trazer essa disfunção hoje para nossa conversa é propor que pensemos o quanto estamos dispostos a dar tempo para as coisas terem seu crescimento natural, uma amizade por exemplo, ou se o imediatismo é o ingrediente indispensável da essência humana. E já vou respondendo que não. Não concordo com a corrente essencialista, e já falei disso nesta coluna diversas vezes. Penso que para existir o defeito da amizade em forma de adulação é conditio sine qua non que haja um ego descontrolado necessitando de elogios. É duro pensar isso, pois nos dá a clareza de que os dois lados envolvidos comungam uma para-amizade.
É no mínimo triste perceber nossas fraquezas como humanos. É lamentável ter que estar sempre medindo, calculando, manipulando para viver. Isso parece mais uma piscina fétida, pois a água parada que não se renova apodrece. Deve ser por isso que manipuladores saem apagando e bloqueando, para poderem beber de outras fontes sem “história ruim” para contar. Viver não é uma estratégia, ou um encontro em uma sala de cristais entre pessoas usando luvas. A vida é um bocadinho mais que isso. Na vida, quando estamos nela, deixamos nossas digitais.
E se a vida fosse feita de amor e delicadeza?
E se os sorrisos e abraços fossem genuínos?
E se não precisássemos de elogios para gostar de alguém?
E se a escuta fosse prática diária?
E se pudéssemos errar?
E se pudéssemos dizer o que nos fere?
E se nada nos ferisse de propósito?
Uma vez um sábio disse que sem confiança é impossível uma vida comum, uma vida em comunidade.
É muito fácil entender as pessoas que evitam contato humano, pois esse contato é sem dúvida o mais perigoso de todos. O falatório é inebriante, mas cega o frágil.
A vaidade é assim, põe o tonto no altoE retira a escadaMas fica por perto esperando sentadaMais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do tonto afinalTodo mundo é igual quando o tombo terminaCom terra em cima e na horizontal
_ Billy Blanco
Meus amigosquando me dão a mãosempre deixamoutra coisapresençaolharlembrança, calormeus amigosquando me dão deixam na minhaa sua mão
__ Paulo Leminski
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